segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A diferença entre Lula (o presidente) e eu

Nasci em 1941 e Lula em 1945. Minha mãe, como a do presidente, nasceu analfabeta. Meu pai, também; inclusive eu. Lamento que os meus avós tenham tido o mesmo destino; meus tios e toda a minha parentela não tiveram sorte diferente. Não foi apenas o caso da primeira mãe. Recorro a esse entendimento equivocado do presidente, para tornar o texto mais leve. Ou seria possível, nos anos 40, em Pernambuco, a pessoa já nascer alfabetizada?

Que bobagem, presidente!

Talvez haja alguma semelhança entre nós, como veremos adiante.

Espero que o leitor seja sábio ao cotejá-la.

Somos ambos nordestinos. Eu, da Paraíba; ele, pernambucano. Nossas famílias tiveram destino trágico e semelhante: eram pobres, renegados da sorte. Lula foi criado por pai e mãe, apesar dos percalços e da cachaça “mardita” que o Aristides bebia, até manifestar-se, como diz, violento com a mulher e os filhos.

A verdade talvez seja menos dramática.

No meu caso, fiquei órfão de pai aos seis anos de idade. Pobre, entregue juntamente com meus dois irmãos à administração familiar e educativa de minha mãe, vi a sorte sorrir em futuro longínquo.

Ainda menino, Lula e a família mudaram-se para São Paulo. Viajaram em pau de arara, um dos principais transportes daquela época, desprovida de boas estradas e de raríssimas linhas rodoviárias e aéreas, principalmente no nordeste seco e espoliado pelos políticos.

Eu emigrei dentro do próprio estado. Fui com a família para Campina Grande, a São Paulo paraibana, destacada por sua pujança econômica. Fugimos da pobreza e das incertezas futuras.

Chegamos ainda crianças, Lula e eu, a cidades diferentes, sem futuro definido, desempregados e entregues à própria sorte. Lula tinha o pai, Aristides, bêbado irresponsável, mas que de qualquer forma lhe provia o sustento, por minguado que fosse. Eu dispunha apenas dos esforços de minha mãe, aprendiz de costureira.

Nossa casa era um casebre de três vãos, sem água encanada, abastecida por mim, que a transportava em duas latas suspensas por cordas que quase tocavam o chão em virtude de minha pequena estatura. A distância de dois quilômetros era percorrida com esforço; os ombros doloridos sentiam alívio a cada período suportável.

Não sei como morava o Lula, nessa época. Possivelmente, sem o conforto da água encanada. O herói de muitos brasileiros não teve sorte diferente da minha.

Assim vivemos Lula e eu, seus irmãos e os meus acompanhados das mães, ainda analfabetas. A de Lula, segundo suas próprias palavras, não sabia fazer o “ó” com o copo. Um exagero utilizado por ele para sensibilizar as pessoas. Mestre em metáforas, conquista os mais despreparados culturalmente, fazendo-os vibrar com sua eloquência marota.

As dificuldades financeiras eram similares às duas famílias. Comecei a trabalhar aos treze anos, transportando caixa no cocuruto, adaptável por ser nordestino. Lula iniciou a labuta diária tão cedo quanto eu.

Depois de longa caminhada, Lula tornou-se torneiro mecânico e eu bacharel em Ciências Contábeis. Trabalhei de dia e estudei à noite. Assim como meu irmão mais novo que se formou engenheiro eletricista em uma das mais prestigiadas universidades do país, a Escola Politécnica de Campina Grande, na Paraíba.

Lula não estudou.

Tem ojeriza aos livros.

O ex-metalúrgico não padeceu mais do que eu. Sua vida não foi assim... tão sofrida, como diz o livro biográfico de Denise Paraná. É só ver as fotografias da época, expostas no compêndio-propaganda, para confirmar a verdade. As fotos revelam uma vida diferente, menos castigada do que a revelada por ambos: por Denise e pelo biografado.

Escrevo esta crônica, cujo título me parece oportuno – A diferença entre Lula e eu – para alertar os leitores quanto ao endeusamento de uma pessoa sem os méritos exageradamente fabricados por seus marqueteiros, e que nem mesmo agora se afigura merecedora dos elogios e da propaganda patrocinados pela mídia oportunista e por bajuladores de plantão. Todos, motivados por interesses escusos.

Se alguém venceu com méritos, não foi o Lula.

Eu também não mereço considerações elogiosas pelo esforço empreendido para enfrentar os obstáculos cotidianos e as agruras de uma vida órfã e sofrida.

Cheguei lá, por conta dos estudos que faltaram ao presidente.

O trabalho também não foi o seu forte.

Greves e viagens ocupavam todo o seu tempo.

A verdade me credencia a citar passagens de minha vida pobre, mas vitoriosa, sem riqueza ou regalos imerecidos. A verdadeira trajetória do Lula, o ex-retirante, ex-metalúrgico, e agora presidente da República, talvez não mereça a mesma fé.

Que o diga a escritora Denise Paraná, autora da biografia transformada em filme, cujo título imerecido é “Lula, o filho do Brasil”.

Considerando as inverdades e fantasias ali publicadas, o povo brasileiro, legítimo descendente deste Brasil de todos nós, exige a devolução do título usurpado por Denise para agradar a aberração criada por ela.

Lula e eu somos diferentes.

Eu sou mais eu.

Ele, uma figura de ficção, criada por intelectuais vermelhos e pela imprensa oportunista para satisfação de um povo despreparado, desmemoriado e ausente.

Ao cotejar as nossas histórias, o leitor verificará a diferença.

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