sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Predição de Nostradamus (crônica)

A única semelhança que me possa ser atribuída ao famoso profeta Nostradamus, nascido em 14 de dezembro de 1503, é que também sou portador de um mal inflamatório nas articulações, conhecido por “gota”.

A doença que me aflige com certa periodicidade afetou implacavelmente o insigne astrólogo, médico e matemático, causando-lhe dores insuportáveis. No seu caso, acompanhou-o até o fim dos seus dias, em 2 de julho de 1566. Quanto a mim, suporto-a, aliviado por modernos medicamentos e pela misericórdia Divina.

Michel de Nostradame, conhecido pelo codinome de Nostradamus, nasceu em Saint Rémy de Provence, no sul da França. A partir de 1547, começou a fazer predições, muitas delas confirmadas, como, por exemplo, a morte do rei Henrique II, em 10 de julho de 1559, e o fim da monarquia francesa, em 1792.

Em 1793, durante a Revolução Francesa, soldados contrários à monarquia arrombaram o túmulo do profeta e espalharam seus ossos pelo chão. Sabedores de que ele havia predito o fim da monarquia, recolheram seus restos mortais ao caixão, antes depositado no mausoléu que continha o seguinte epitáfio, escrito por sua viúva:

"Aqui estão os restos mortais do mui ilustre Michel de Nostradame, o único, na opinião de todos os mortais, cuja pena, quase divina, foi digna de escrever os futuros acontecimentos que hão de acontecer no mundo inteiro".

Fragmentos de uma profecia do famoso vidente, constantes de uma de suas Centúrias (coletânea de profecias), cuja autenticidade desconheço, me foram remetidas por e-mail, recentemente.

Diz o texto cibernético:

"Próximo do terceiro milênio, uma besta barbuda descerá triunfante sobre um condado do Hemisfério Sul, espalhando desgraça e miséria... Será reconhecida por não possuir um dos membros superiores completo, trará com ela uma horda que dominará e exterminará as aves bicudas e implantará a barbárie por muitas datas sobre um povo tolo e leviano".

Comentando com certo amigo, experiente analista, profundo conhecedor das mazelas que acometem o Brasil, crítico de mancheia, ouvi dele, o seguinte:

"Bolsa família, mensalão, corrupção desenfreada, ausência do dedinho... Meu Deus! Os quarenta... Não é coincidência! Os tucanos... Que horror! Não tenho dúvidas, amigo, é ele! E aquele povo tolo e leviano somos nós".

Embora respeite bastante esse meu amigo, fiquei meio assim, na dúvida; e você, caro leitor, em sua opinião, é ele mesmo? Por favor, ajude-me e a outros brasileiros, a esclarecer essa importante profecia de Nostradamus.

Será ele, meu Deus? Estou com medo! Não tenho mais esperanças. Se for ele, como tudo indica, o que será de nós, os justos? Teremos direito ao Pré-sal?

Diferenças gritantes (crônica)

Sentado em minha cadeira de balanço, curto merecida aposentadoria, após quase quarenta anos de intenso trabalho. Penso na vida que já me espia com seus primeiros raios crepusculares, desfrutando do conforto da remuneração desigual. Usufruiria os prazeres seculares mais confortavelmente, se tivesse ocupado cargo eletivo como deputado do estado mais pobre do Brasil.

O rangido da velha cadeira é um dos poucos sons que ouço em meus momentos de meditação. Excetua-se o trinado mavioso dos passarinhos que frequentam meu jardim, em busca de água e comida.

O cântico da passarinhada lembra-me barulhentos cantores que se multiplicam por este Brasil alegre e festeiro. São proprietários de grandes fortunas, adquiridas com a mesma rapidez com que sacodem o corpo e balançam os quadris em shows de concorrida frequência.

Em outra direção, vislumbro gente igualmente famosa e rica. São os apresentadores de televisão e os jogadores de futebol; os primeiros ganham a vida com a audiência do telespectador menos esclarecido, que se diverte com a revelação da intimidade de pessoas humildes e desprovidas de bom senso; os segundos amealham fortunas com o uso dos pés, e ainda são chamados pela imprensa de “rei”, “imperador” e “fenômeno”, como Pelé, Adriano e Ronaldo.

E ainda restam os pilotos de fórmula um, com seus macacões coloridos e carros barulhentos, em cujas contas bancárias o dinheiro também abunda.

Após muito refletir, pergunto-me: é justo um ator, cantor, apresentador de televisão, pilotos das Fórmulas 1 e Indy ou jogador de futebol receberem centenas e até milhares de vezes o que o percebe o trabalhador, em sua labuta diária, árdua e estressante?

Comparados aos executivos de empresa privada, médico, advogado ou engenheiro, profissionais revestidos de robustos conhecimentos, obtidos em cursos de longa duração, difíceis e caros, eles ganham excessivamente.

O profissional competente, de qualquer área do conhecimento humano, merece remuneração justa. Os atores, cantores, apresentadores de televisão e jogadores de futebol, também.

A grande diferença entre uma e outra remuneração é que faz a desigualdade ser grande.

Salários ou rendimentos excessivamente altos são fatores inflacionários, pois todos pagam o preço dos milionários contratos firmados com essas celebridades, quando chamadas a divulgar produtos e serviços.

A economia seria beneficiada com remunerações menores, que não exorbitassem os valores justos atribuídos à inteligência, à capacidade e ao profissionalismo individual de seus portadores. Assim, os preços dos produtos e dos serviços seriam reduzidos e o consumo aumentado.

Isto, sim, seria um fenômeno.

Fenômeno não é um fato de natureza social?

Não é o objeto da experimentação?

Experimentemos, pois, não elevar às alturas as remunerações dessa privilegiada elite, e, quem sabe, as diferenças se tornem menos gritantes.

Nada (crônica)

Escrever é uma atividade que sempre me fascinou. Quando não escrevo, leio. A leitura tem sido mais frequente em minha vida, até por que escrever não é fácil.

Alguns têm facilidade em se comunicar, dominam bem a palavra, expressam corretamente as ideias, manifestam fielmente os pensamentos, emitem opiniões com lucidez e expõem os assuntos de maneira eloquente, usando linguagem aprimorada e estilo elegante.

Outros, como eu, fazem da arte de escrever uma satisfação pessoal, despreocupado com a elegância das formas, às vezes tropeçando na gramática, maltratando o vernáculo e atropelando os fatos.

Escrever é uma forma de manifestação da palavra. Escrevo por prazer. Se não agradar, que me perdoem os poucos que se aventuram a ler os meus escritos.

Ultimamente, a minha produção literária tem sido de pouca monta. Escrevo sobre economia e política, principais assuntos do meu modesto conhecimento. Os políticos são os alvos escolhidos, pois inspiram a quem escreve e fornecem-lhe o material necessário à divulgação de suas crônicas diárias.

A biografia de certos parlamentares, atualmente, assemelha-se às folhas-corrida dos grandes marginais tupiniquins.

Os noticiários não me deixam mentir.

Hoje, não tenho sobre o que escrever. Desiludido, escrevo sobre “nada”.

Segundo os dicionários Aurélio e Houaiss, “nada” significa coisa alguma, nenhuma coisa, de modo nenhum, o vazio. Traduz-se, também, como a negação da existência de algo, o que não é verdadeiro, o que não ocorreu, o que não existe.

No âmbito da criminalidade, porém, quando um político corrupto, um marginal comum ou de colarinho branco, flagrado em atos ilícitos diz “nada a declarar”, não quer dizer que ele, bandido, não tenha cometido algum crime, que não exista “nada” em desabono à sua conduta moral.

O “nada”, constante de sua declaração, apenas transfere a oportunidade de declarar o erro à justiça, de forma mais conveniente, orientada por bons advogados. Ao final, resulta mesmo em “nada”.

Provas insuficientes, falhas processuais, delitos promovidos por pessoas ricas, protegidas politicamente, não levam a “nada”. Nos dois primeiros casos, a Lei bem o diz; nos demais, a impunidade encarrega-se de levar os casos a lugar nenhum.

Ao “nada”, portanto.

Deus fez o mundo do “nada”. Lavoisier disse que “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. E eu, que “nada” sou “nada” sei, nem mesmo escrever, amargo esse infeliz momento, as mãos postas no teclado do laptop, esperando um lampejo qualquer de inteligência, na esperança de produzir um texto que possa chamá-lo de meu.

“Nada”, porém, acontece.

Nenhuma linha para colorir de preto a tela branca do meu computador portátil.

Está difícil!

Meu pastor, meu politico? (crônica)

Gostaria de fazer minhas, as palavras do Apóstolo Paulo, transcritas no capítulo treze, versículo dois, de sua Primeira Epístola aos Coríntios. Desejo usá-las, com a devida vênia, porém acrescentando uma sentença, que imagino ser o pensamento de todos os brasileiros.

O autor de tão expressivas cartas, diz: “... ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes...”; eu, pois, substituo uma parcela do texto sagrado, complementando-o assim: não acreditaria no político, mesmo sendo ele um pastor evangélico.

Paulo diz que “o amor é benigno; sem inveja, sem leviandade, sem soberba; porta-se com decência, é desinteressado, não se irrita, não suspeita mal; não tem prazer na injustiça e deleita-se com a verdade”.

Político algum reúne essas qualidades. Nem mesmo os pastores, hoje mais praticantes dos ensinamentos de Maquiavel e menos seguidores dos Evangelhos e da pregação do Apóstolo dos Gentios.

O pastor, enquanto político, no exercício de sua atividade pública, é falso, mentiroso, leviano, volúvel… corrupto.

O político, como pastor, exibe as mesmas qualidades, porque a ele interessa mais o poder, o usufruto das regalias públicas, o privilégio da impunidade.

O político não se deleita com a verdade; ao contrário, irrita-se quando confrontado com ela, parecendo desconhecê-la.

A tentação de ser político está presente nas igrejas de hoje. Os pastores abandonam o “chamado” e aderem à política, por considerá-la mais vantajosa.

Bastante lucrativa.

Como se sentirá um pastor eleito para um cargo político, participando de jogos de cartas marcadas, de puro interesse, não raro eivado de irregularidades? Como pregará a Palavra de Deus, que fala de amor, honestidade, vida ilibada, sem mácula, se ele não mais a pratica? Que dirá do tempo antes dedicado à igreja e agora dividido com a política? A quem pertencerá a maior parte desse tempo? Qual será o nome mais mencionado em suas palestras? O de Jesus ou do presidente da República, de um senador ou de um deputado qualquer?

O chamado de Deus foi para tornar-se pastor, pregador da Palavra, conselheiro, e não um político. Ao mudar de rumo, renega a vocação que antes dizia possuir, estará “roubando” o tempo da igreja, que por certo ficará desfalcada, destinada a crescer vagarosamente e a se fortalecer menos ainda.

Quando aderem à política, os pastores deixam de investir no reino do Céu. Transferem seus "investimentos" para o reino da Terra, de onde emanam a desobediência, a desonestidade, a violência, as desigualdades sociais... o pecado.

Meu pastor, meu político?

Nunca!

Gritos inaudíveis (crônica)

Quem escreve está sujeito a erros de grafia. O engano poderá ser cometido à mão ou a máquina. Em ambos os casos poderão ser praticados por desconhecimento do vernáculo ou por displicência.

O escritor poderá errar a colocação de pronomes ou a flexão das palavras. Concordâncias nominais e verbais são regras gramaticais rígidas a serem observadas para valorização da palavra escrita.

Nunca é demais a revisão rigorosa do trabalho literário. Constitui falta de respeito aos leitores, os erros cometidos em livros, jornais, revistas e e-mails, esta última, moderna forma de comunicação da atualidade.

Particularmente, tenho vivido momentos de “horror gramatical”, ao constatar erros em meus escritos.

Recentemente, li um conto de Monteiro Lobato, denominado O Colocador de Pronomes. O autor conta o sofrimento do personagem Aldrovando Cantagalo, em sua luta pelo uso correto da língua portuguesa.

Esse ferrenho defensor da correção gramatical teria sido confrontado até pelos congressistas de sua época, ao pedir-lhes a instituição de leis draconianas em defesa do idioma pátrio. Drácon foi um legislador ateniense do século VII ª C, a quem foi atribuído severo código de leis.

O autor da proposta não recebeu apoio dos congressistas de seu tempo, sob a alegação de que estariam autocondenando-se à morte, pois comparavam a lei requerida a um patíbulo, onde eles seriam as principais vítimas.

Se Aldrovando Cantagalo tivesse obtido a instituição da lei requerida por ele, o Congresso Nacional contaria hoje com reduzido número de parlamentares. Instituídas leis com o rigor das elaboradas por Drácon, para punir congressistas desonestos, o número de suas excelências seria mais reduzido ainda.

Achei interessante o Consultório Gramatical instalado por Aldrovando, mas que, infelizmente, não recebeu dos intelectuais e escritores a devida atenção. Segundo o autor de O Colocador de Pronomes, o escritório aberto pelo insigne gramático foi fechado por encontrar-se às moscas, por falta de clientes.

A medicação que o grande terapeuta das letras preparou para curar a língua enferma não foi aplicada. Até os dias de hoje a doença se alastra de forma epidêmica, e poucos são os “médicos” preparados e dispostos a curá-la. Nem mesmo são capazes de minimizar os efeitos do vírus da irreverência e do analfabetismo que contaminam a língua com seus erros crassos.

São poucos os Aldrovando de hoje.

Conheço um deles, de quem me orgulho por ser um parente próximo; primo-avô: João Mendes da Cunha, paraibano nascido na cidade de Cajazeiras, conterrâneo que orgulha os mais expressivos expoentes das letras do nosso estado. Intelectual de vasto conhecimento, estudioso e profundo conhecedor da língua portuguesa, é revisor de obras de renomados escritores locais e de lugares considerados berço da inteligência e da cultura.

João Mendes da Cunha também é poeta. Um dos maiores nascidos na Paraíba; poucos se lhe assemelham na produção da poesia. É um espécime raro no mundo das letras; um artista dos sonetos acrosticados; um gênio que escreve dezenas de poesias, sonetos, glosas, décimas... Um mestre, como Aldrovando Cantagalo, que insiste na correção do uso do vernáculo, por conhecê-lo soberanamente, sofrendo com as agressões feitas ao idioma em livros, jornais, placas e panfletos.

Gritos da Saudade – título de excelente obra de João Mendes da Cunha – levou a Paraíba a outras plagas e elevou o nome de Cajazeiras, onde nasceu “o poeta”. Gritos Inaudíveis – título desta modesta crônica – foi tomado emprestado ao João. Não quis imitá-lo ou igualar-me a ele, pois me seria impossível chegar ao nível de sua intelectualidade. Tentei, sim, unir a sua voz à de Aldrovando Cantagalo em mais um apelo para resgatar o bom o uso da língua portuguesa.