segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Envelhecer, o grande desafio (crônica)

Aos treze anos, o jovenzinho está em plena transição da infância para a adolescência, encontra-se em fase de crescimento, se desenvolve sexualmente e inicia suas funções reprodutivas. Com mais alguns anos, ingressa na idade adulta, com todas as consequências da pessoa em sua trajetória para o envelhecimento.

Casei relativamente cedo; aos vinte e um anos. Constitui uma adorável família, representada pela esposa, a quem amo com todas as veras do meu coração, e por três filhos, igualmente queridos; o primeiro, do sexo masculino, recentemente completou quarenta e seis primaveras; as meninas já são detentoras de quatro décadas cada uma, afora o excedente anual dos dias que elas omitem, com é comum às mulheres. A idade do belo sexo é expressa com inexatidão matemática. Assim, mascaram o tempo real de existência vivida nesta terra de meu Deus.

Não pretendo, aqui, tratar da minha vida particular nem expor a esposa e “as crianças” a vexames públicos. Desejo falar sobre pessoas que já “dobraram o Cabo da Boa Esperança”, ingressando na chamada “terceira idade”, categoria em que se encontram os idosos depois de ultrapassados os cinquenta anos. A primeira idade dá-se aos vinte e cinco, a segunda, aos cinquenta e a terceira, depois disso aí.

Por ser velho, idoso ou por ter ingressado na terceira idade há algum tempo, sinto-me “a cavalheiro” para falar sobre esse tema. Pois, bem: Lamentavelmente, 80% dos idosos sofrem de preconceito contra a velhice no Brasil. 35% dos velhinhos declaram ter sofrido algum tipo de maus tratos, seja por ofensas pessoais, tratamento irônico, humilhação decorrente da idade avançada em dias, falta de emprego, ausência de medicamentos, apropriação indevida de seus bens, e até lesões corporais, esta última, um ato vil, de extrema covardia e desprezo humanitário.

Vinte e seis por cento das mulheres idosas jamais foram submetidas a exames ginecológicos, enquanto 42% dos homens da terceira idade nunca visitaram um urologista para avaliarem a próstata. A estatística demonstra dois aspectos a lamentar: Primeiro, a falta de assistência à saúde dessas pessoas, por parte do governo, pois é sabido que o pobre depende exclusivamente da rede hospitalar pública para cuidar dos seus males físicos; segundo, o desconhecimento sobre as doenças orgânicas que os acometem; a ignorância que os assola está refletida no analfabetismo de 49% dos idosos, dos quais, 23% declaram não saber ler e escrever o próprio nome.

Seis por cento dos velhinhos no Brasil não têm filhos. Isso poderá ser entendido como fator de ausência afetiva; sem filhos para cuidar, ficam à mercê de pessoas estranhas de quem passam a depender, nem sempre com o devido respeito.

Outrossim, os mais velhos poderão ser alvo de atos discriminatórios e de conflitos entre a geração mais nova, que se julga prejudicada por contribuir pesadamente para a aposentadoria do cidadão improdutivo, responsável por gastos cada vez maiores, decorrentes da utilização de remédios e de cuidados médicos constantes.

Noventa e dois por cento dos velhinhos têm alguma aposentadoria.

Quanto à assistência médica...

As doenças, as dificuldades motoras, a dependência física, tudo confirma que nós, homens e mulheres, chegamos à velhice. Alguns, privilegiados pela natureza ou por terem levado a saúde a sério, alimentando-se corretamente, exercitando-se com periodicidade recomendável, chegam a esse estágio da vida em melhores condições que outros.

Há, infelizmente, os que herdaram problemas de seus ancestrais, seguiram-lhes os caminhos tortuosos das doenças genéticas, e os que fizeram de seus dias uma libertinagem sem fim, transformando-os num jogo que lhes levaram à derrota; ou seja, a uma existência sofrida e dependente.

Mas a vida é bela! Mesmo com os sintomas acima mencionados, 48% dos idosos se declaram felizes e satisfeitos assim como vivem; os caminhos percorridos, as vitórias sofridas, as derrotas transformadas em aprendizagem marcante, a família constituída com amor…

Eu, particularmente, agradeço a Deus os dias que me restarão sob Seu comando, Sua proteção, Seu beneplácito.

Aqui estou Senhor, agradecido por tudo que me concedeste nesta vida: a juventude; o amor à estimada consorte, aos filhos, netos, genros e nora; e aos amigos queridos.

Agradeço-Te, também, a velhice concedida, que desfruto desafiando o tempo.

(*) os percentuais mencionados foram obtidos em pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abrano e o SESC

Brasil que te quero próspero (crônica)

Aos sessenta e oito anos, próximo de fazer sessenta e nove – não confundir com a expressão pejorativa tão em voga hoje em dia –, fui acometido de certa crise nostálgica. Minha repentina tristeza decorreu da falta de providências e de efetividade dos governantes, sobre aspecto econômico de grande significação para o Brasil: as ferrovias.

Para um país que deseja tornar-se potência econômica, esse fator de infraestrutura é importantíssimo. Deve ser buscado obstinadamente, para que a circulação da riqueza não encontre empecilho na morosidade.

O transporte de bens e de passageiros por via ferroviária reduz o trânsito de veículos automotores nas estradas, propicia economia de manutenção do asfalto aplicado desonestamente, e minimiza os acidentes com vítimas humanas. Esse, o principal motivo.

O volume de produtos transportados ultrapassa os limites de análise econômica pertinente, o que não está sendo cogitado nesta oportunidade.

O ideal seria que as ações visando à implantação do sistema ferroviário não demorassem muito, pois brasileiros como eu, no ocaso da vida, talvez não alcancem a prosperidade trazida por esse antigo meio de transporte, hoje modernizado, eficiente e ágil. Essa não é a principal via do desenvolvimento econômico, mas, certamente, uma delas, aqui simplesmente tratada por ter sido escolhida como tema desta despretensiosa crônica.

Quem sabe, depois, falarei de outro assunto, tão ou mais importante.

Prossigo sem digressões, rumo ao corolário da ideia inicial.

A partir de 1852, as estradas de ferro brasileiras foram implementadas com visão futurista e expansionista, capitaneadas por Irineu Evangelista de Sousa, empresário que viajou à Inglaterra para conhecer “in loco” a pujança da economia britânica, responsável pela Revolução Industrial.

Irineu voltou ao Brasil convencido de que o caminho a percorrer por um país como o nosso, essencialmente agrícola, à época, seria o da industrialização. Ele próprio tornou-se industrial. Posteriormente, foi contratado pela província do Rio de Janeiro, desejosa de possuir uma ferrovia unindo a praia da Estrela, na Baia da Guanabara, à Serra de Petrópolis.

A Baronesa, locomotiva fabricada pela Manchester, da Inglaterra, e assim batizada para homenagear a mulher de Irineu Evangelista, fez sua primeira viagem em 30 de abril de 1854, partindo da praia da Estrela para Fragoso, um trecho de 14,5 quilômetros. A bordo estavam o imperador D. Pedro II e o industrial Irineu Evangelista de Souza, agraciado, na oportunidade, com o título honorífico de Barão de Mauá, concedido por Sua Alteza Real.

Honra outorgada por méritos inquestionáveis.

Trago à lume a questão de nossas ferrovias, por terem sido vergonhosa e criminosamente desmanteladas e esquecidas por sucessivos governos a partir dos anos sessenta. Alguns foram responsáveis pelo desmonte irresponsável e interesseiro, enquanto outros não se dispuseram a ressuscitá-las ou a revigorá-las, salvando-lhe o patrimônio físico – trilhos, máquinas e edificações – que aos poucos foram consumidos pela ferrugem e a depredação decorrente do abandono a que foram submetidas. Poucas ferrovias escaparam desse destino mal-são, patrocinado pelas autoridades encarregadas de zelar por sua permanência econômica. E histórica.

Em 1889, o Brasil já dispunha de mais de dez mil quilômetros de ferrovias, e entre 1911 e 1916 foram construídos cinco mil quilômetros de linhas férreas. Os números evidenciam um crescimento lento, sabendo-se que hoje dispomos apenas de 29.706 quilômetros de trilhos, embora tenhamos chegado a 34.207 quilômetros. A diferença perdeu-se na ineficiência e no desinteresse do Estado. A propósito, tal falta de empenho teria sido motivada pelo apego escuso das autoridades brasileiras aos ganhos fáceis, e velozes em ajudar a indústria automobilística a pilotar seus veículos recheados de dinheiro.

Era o propinoduto operando em alta velocidade.

A rede férrea dos Estados Unidos, a mais extensa do mundo, tem 226.612 quilômetros. A Europa está revolucionando os seus trilhos com alianças entre os países da comunidade. E nós, com os nossos míseros 29.706 quilômetros de linhas mal conservadas e desassistidas quanto a adequado apoio operacional e logístico, ficamos na rabeira, próximo de países africanos.

As autoridades tupiniquins estariam propensas a aumentar a nossa malha ferroviária. O presidente da República disse, em discurso eleitoreiro, que até 2010 construiria sete mil quilômetros de linhas férreas. O ruim disso tudo, é que o presidente fala demais; chega até mesmo a contar com o ovo no c... da galinha; costuma apresentar seus projetos como realizações efetivas, ou seja, inaugura-os antes mesmo de elaborados.

O que fazer?

É o Brasil, subindo a ladeira.

Cansado.

Os trilhos de nossa economia poderiam estar mais azeitados se o trem que conduz a corrupção desmedida, pilotado por maus e desonestos maquinistas, tivesse freio.

Você acredita em mudanças?

Nem eu!

domingo, 8 de novembro de 2009

Força-tarefa (crônica)

A coisa está ficando preta. O bicho vai pegar, se não forem tomadas urgentes providências para inibir a ação de bandidos, tanto dos que praticam crimes comuns quanto dos que assaltam o Erário.

Já é tempo de as autoridades, pelo poder que lhes compete, coibir os abusos de programas recheados de erotismo apelativo, de alta sensualidade, indecorosos e pornográficos, exibidos nas redes de televisão.

Em nome da liberdade de expressão e contra a prévia censura, falsos intelectuais e conhecidos exibicionistas defendem o contrário.

É preciso dar um basta!

A cada dia, os jornais noticiam casos de violência que já fazem parte do nosso cotidiano. São sequestros, assaltos, roubos, furtos, estupros e muitas outras selvagerias.

As televisões mostram cenas de guerra, troca de tiros entre policiais e bandidos à luz do dia, como se estivéssemos em uma guerra declarada. Os noticiários também divulgam inúmeros casos de corrupção, de desvio de verbas públicas e da utilização da máquina governamental a serviço de escusos interesses políticos e eleitoreiros.

Os programas de entretenimentos televisivos extrapolam os limites da moral e dos bons costumes. Divulgam cenas deprimentes em seus realities shows, como Casa dos Artistas e Big Brother Brasil, o primeiro, do SBT e o último, da Rede Globo. Seus apresentadores usam palavras chulas, inoportunas e até fazem gestos e exibem imagens e objetos de teores eróticos e pornográficos.

As telenovelas parecem concorrer com filmes do mais baixo nível cultural e moral. Cenas de sexo nas novelas das dezenove horas são comuns e desafiam a curiosidade das crianças que, por essas razões, não são mais tão inocentes quanto deveriam e desejariam os pais.

É preciso dar um basta!

Urgentemente!

A sociedade está em decadência. Cidades inteiras, grandes metrópoles, principalmente, estão sob o domínio do crime organizado. Em alguns estados, os bandidos já chegaram ao poder elegendo-se para cargos legislativos; eles agora elaboram normas que devemos cumprir ou fazem “vista grossa” para o que deixamos de fazer, sobretudo se for de índole criminosa.

Chegamos ao ponto, aliás, muito oportunamente, de constituir Forças-Tarefas para combater o mal que cresce assustadoramente, pois as polícias locais não dão conta do recado.

Força-tarefa é um grupo de unidades operativas, de diferentes especialidades, constituída temporariamente sob comando único, para realizar uma tarefa específica, com certa independência de procedimentos e ações. Poderá ser constituída por policiais civis e militares, procuradores federais e desembargadores, juízes de diversas instâncias e até pelas forças armadas.

É preciso dar um basta!

Com urgência.

Muitas outras Forças-Tarefa deveriam ser formadas para apurar delitos de toda ordem: dos crimes comuns contra as pessoas aos desvios de verbas públicas. Também serviriam para melhorar os sistemas de saúde e educacional do país, o funcionamento das repartições federais, estaduais e municipais e, quem sabe, dar um basta à licenciosidade de nossas emissoras de televisão.








Lamércio Maciel Braga

Economizar é preciso (crônica)

O desperdício é sempre condenável. A gastança desenfreada, também. Desde que não acarretem prejuízos a pessoas ou a projetos em execução, os gastos poderiam ser adiados para oportunidades vindouras e de recursos mais abundantes.

Economizar é próprio de pessoas inteligentes, esclarecidas, conscientes, responsáveis, preocupadas com o futuro e desejosas em progredir. É também característica de quem se preocupa com o bem estar de outros indivíduos e com a estabilidade material de negócios, de empresas ou de entidades públicas.

Economizar é preciso. Deve ser ensinado às crianças pelos pais, no lar, e pelos professores, na escola, enquanto estão na fase de desenvolvimento. O exemplo de pais e professores estimula o aprendizado. Economizar é cultura e, portanto, deve ser passada de pai para filho. A atitude de economizar deve ser praticada diariamente, com o propósito de se gastar apenas o que deve ser gasto e não o que se pode gastar.

Em qualquer sociedade, economizar é prática salutar. O povo japonês é tido como poupador contumaz. O americano do Norte aplica suas sobras financeiras no mercado de capitais. Outros povos também poupam. Até certos brasileiros, quando lhes é possível, entesouram parte do pouco que recebem.

Se a população separasse uma parcela do que gasta com a cachaça, a cervejinha consumida nos finais de tarde, as inúmeras loterias federais e estaduais, o jogo do bicho e com as máquinas “caça-níqueis”, espalhadas pelos recantos mais remotos, a poupança nacional seria bem mais representativa.

A redução de gastos desnecessários ou excessivos aumentaria a poupança nacional e financiaria investimentos do governo em projetos de combate à miséria, construção de casas populares, criação de pequenos empreendimentos; e elevaria, por conseqüência, os níveis de renda e de emprego da população.

Economizar é preciso, também em relação aos desembolsos efetuados em todos os níveis da administração pública – federal, estadual e municipal – com a propaganda de realizações exageradamente divulgadas e até falsamente comunicadas ao público.

A propaganda institucional deveria ser permitida apenas para o governo orientar o cidadão quanto ao exercício da cidadania; informá-lo na busca de emprego e de treinamentos profissionalizantes; ensiná-lo os princípios de higiene, asseio e convivência social; proporcionar-lhe os meios para que tenha acesso à escola e à saúde; e alertá-lo sobre doenças, seus males e tratamentos disponíveis.

A redução dos altos custos dessa desregrada propaganda seria revertida em benefício da comunidade; a população teria mais escolas, hospitais, segurança pública eficiente, e o aposentado uma remuneração mais justa. O Estado reduziria seu enorme déficit social. E o contribuinte não veria o produto de seus impostos escoar pelas mãos dos larápios que fazem a propaganda oficial cara, destinada a enaltecer o nome de pessoas incapazes e corruptas.

A prata da casa (crônica)

Não será por saudosismo, muito menos por esperança frustrada ou por revanchismo, que venho ao meu reduzido número de leitores, nesta oportunidade, discorrer sobre este assunto.

Situando-me a partir da segunda metade dos anos sessenta, na região Nordeste, lembro-me de estradas de terra esburacadas, lamacentas, de tráfego difícil e penoso. Lamacentas, sim, nas poucas vezes em que as chuvas mostraram-se generosas.

Por centenas de quilômetros, a viagem revelava-se cansativa. Os negócios que se pretendiam realizar em outras praças resultavam pouco lucrativos. O tempo de percurso entre uma cidade e outra onerava os custos do transporte. O excesso de consumo de combustível, as despesas com refeições e pousada e os gastos com peças de reposição dos veículos inviabilizavam os pequenos empreendimentos.

A economia da região, afetada negativamente por diversos fatores, principalmente pela carência de chuvas, que impediam a terra de produzir convenientemente, não conhecia o setor do “turismo”, hoje uma das principais, senão a principal alavanca do seu desenvolvimento.

A falta de boas estradas pouco estimulava os viajantes. Os raros turistas, à época, foram privados de conhecer as belezas naturais da região, suas praias aconchegantes, a culinária (mesmo a mais exótica) e seu povo espontâneo e hospitaleiro.

Lembro-me da rodovia ligando o alto sertão paraibano ao litoral do estado, asfaltada por um grupamento de engenharia do Exército. Foram 360 quilômetros de excelente trabalho.

A obra exemplar, extensa e durável, levou o sertão à capital e propiciou o progresso, a melhoria de vida do sertanejo, a comodidade do viajante e o surgimento de novas cidades; encurtou as distâncias, apressou o tráfego e integrou as comunidades rurais e citadinas.

Reconheço não ser da competência das forças armadas a construção de estradas, o asfaltamento e a sua conservação, como não seria atribuição sua edificar hospitais, escolas e presídios. Todavia, teríamos, dessa forma, a certificação de boa qualidade das obras, a baixo custo, resistentes ao tempo, sem a interferência maléfica de políticos aproveitadores, de empreiteiros apaniguados, também desonestos, corruptores e influentes no governo.

Ademais, seria a oportunidade de nossos militares aproveitarem melhor a estrutura física e operacional de suas instalações e equipamentos.

Admitindo como positiva a idéia, poderíamos concluir que a sua materialização levaria o país a somar capacidade, qualidade e disciplina; a diminuir custos, corrupção e má gestão da coisa pública; a multiplicar a infra-estrutura nacional e a sua riqueza, para, depois, dividir os benefícios com a população.

De verdade!