sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nada (crônica)

Escrever é uma atividade que sempre me fascinou. Quando não escrevo, leio. A leitura tem sido mais frequente em minha vida, até por que escrever não é fácil.

Alguns têm facilidade em se comunicar, dominam bem a palavra, expressam corretamente as ideias, manifestam fielmente os pensamentos, emitem opiniões com lucidez e expõem os assuntos de maneira eloquente, usando linguagem aprimorada e estilo elegante.

Outros, como eu, fazem da arte de escrever uma satisfação pessoal, despreocupado com a elegância das formas, às vezes tropeçando na gramática, maltratando o vernáculo e atropelando os fatos.

Escrever é uma forma de manifestação da palavra. Escrevo por prazer. Se não agradar, que me perdoem os poucos que se aventuram a ler os meus escritos.

Ultimamente, a minha produção literária tem sido de pouca monta. Escrevo sobre economia e política, principais assuntos do meu modesto conhecimento. Os políticos são os alvos escolhidos, pois inspiram a quem escreve e fornecem-lhe o material necessário à divulgação de suas crônicas diárias.

A biografia de certos parlamentares, atualmente, assemelha-se às folhas-corrida dos grandes marginais tupiniquins.

Os noticiários não me deixam mentir.

Hoje, não tenho sobre o que escrever. Desiludido, escrevo sobre “nada”.

Segundo os dicionários Aurélio e Houaiss, “nada” significa coisa alguma, nenhuma coisa, de modo nenhum, o vazio. Traduz-se, também, como a negação da existência de algo, o que não é verdadeiro, o que não ocorreu, o que não existe.

No âmbito da criminalidade, porém, quando um político corrupto, um marginal comum ou de colarinho branco, flagrado em atos ilícitos diz “nada a declarar”, não quer dizer que ele, bandido, não tenha cometido algum crime, que não exista “nada” em desabono à sua conduta moral.

O “nada”, constante de sua declaração, apenas transfere a oportunidade de declarar o erro à justiça, de forma mais conveniente, orientada por bons advogados. Ao final, resulta mesmo em “nada”.

Provas insuficientes, falhas processuais, delitos promovidos por pessoas ricas, protegidas politicamente, não levam a “nada”. Nos dois primeiros casos, a Lei bem o diz; nos demais, a impunidade encarrega-se de levar os casos a lugar nenhum.

Ao “nada”, portanto.

Deus fez o mundo do “nada”. Lavoisier disse que “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. E eu, que “nada” sou “nada” sei, nem mesmo escrever, amargo esse infeliz momento, as mãos postas no teclado do laptop, esperando um lampejo qualquer de inteligência, na esperança de produzir um texto que possa chamá-lo de meu.

“Nada”, porém, acontece.

Nenhuma linha para colorir de preto a tela branca do meu computador portátil.

Está difícil!

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