segunda-feira, 29 de junho de 2009

Amarga vida (crônica)

Um amigo meu tem um pequeno restaurante na cidade. Desses botecos que proliferam aqui e ali, apertados e sufocantes. Mede cerca de vinte metros quadrados. Quando o dono sai do cubículo que o separa do público, sempre aparece alguém para ocupar o seu lugar. Igual à situação do sujeito que, em meio a uma multidão de pessoas, não encontra mais desocupado o local de onde tirara o pé que doía sob o peso do corpo.

No restaurante desse meu amigo é assim. As pessoas chegam a brigar por um espaço em que possam ajustar-se melhor. Não é porque o movimento seja intenso; não, nada disso; é por ser pequeno mesmo.

As mesas em que são servidas as refeições ficam do lado de fora, sob uma marquise que a síndica do prédio aluga a peso de ouro, elevando os custos do reduzido negócio.

Conheço bem o lugar: os três frízeres, o fogão de quatro bocas, do tipo industrial, e a pequena pia em que são cortadas as carnes, preparados os pratos e lavada a louça do movimento diário.

Fui contador na vida profissional, por isso, gozo de certa intimidade com as dificuldades financeiras e de organização dos pequenos estabelecimentos.

As de natureza pecuniária são as piores.

O restaurante desse meu amigo, como negócio, sofre de mal crônico. Nunca proporciona ao proprietário alguma sobra de dinheiro. Ele está constantemente endividado, ameaçado de cerrar as portas ou à espera de que fulminante infarto ponha fim à sua vida, aos quarenta e quatro anos de idade.

Não é para menos.

Com freqüência, os credores batem à sua porta exigindo-lhe a quitação das dívidas, anteriormente saldadas com cheques pré-datados, sem fundos, recebidos de clientes de caráter duvidoso.

Hoje, vejo esse amigo em situação desesperada. O negócio quase falido, excessivamente tributado pelo Estado ganancioso, as finanças a zero, as dívidas crescentes, os créditos escassos, as possibilidades reduzidas, a idade avançada em dias, e a saúde minada pelo enfrentar cansativo do trabalho quase diuturno.

Todos foram injustos com ele: o governo, que o explorou com pesados impostos; os fregueses, que não honraram os compromissos de pagar o que compraram fiado; e a vida, que lhe tem sido exigente e desigual.

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