quarta-feira, 1 de julho de 2009

A vida no campo é melhor (crônica)

Morar no campo. Ah, que maravilha!

É bonito o anoitecer no campo. Às vezes romântico e nostálgico, porém, agradável e tranqüilo.

Sentado na varanda da casa ou no batente da humilde choupana, contemplando o dia findar-se, o sol diminuir de intensidade e esconder-se no horizonte é um agradável prazer.

Morar no campo. Que tranqüilidade!

Os passarinhos em revoada nos finais de tarde, à procura de abrigo; o gado mugindo no curral, fazendo soar os chocalhos presos ao pescoço, acomodando-se para ruminar e dormir; o guizalhar dos grilos; as estrelas no céu, pontilhando o firmamento com suas luzes cintilantes; o vento frio, soprando forte e ondulando as águas do rio… tudo completa cansativo dia de trabalho.

Morar no campo. Que escolha feliz!

Anoitecer cansado e despertar disposto pelo cantar do galo; ver o sol iluminar a relva, fornecer o calor que conforta e a energia que dá vida; banhar-se em águas cristalinas e mornas; trabalhar a terra; viver a vida.

Se dependesse de mim, entre morar na cidade ou no campo, escolheria a segunda opção. Ali, desfrutaria mais a convivência familiar; usufruiria o prazer de contemplar a natureza; estaria distante da violência urbana, da concorrência no emprego e dos conflitos sociais; moraria modestamente, mas com dignidade; não teria a comodidade dos transportes automotores nem a distração da televisão; não assistiria aos jogos de futebol nem passearia nos shoppings às tardes. Mas, seria feliz.

Se dependesse de mim, moraria no campo.

Não residiria em “barraco”, dividido entre duas ou três famílias, alugado por dois terços do meu pequeno salário; não suportaria o cheiro fétido dos esgotos que serpenteiam em frente à minha casa; não usaria os superlotados transportes urbanos que me levam ao trabalho, quando o tenho; não seria obrigado a abrir as pernas e a elevar as mãos às paredes, para ser revistado pela polícia, que me considera bandido; não seria humilhado pela condição degradante em que vivo, nem enganado por políticos com suas descumpridas promessas da casa própria, que jamais terei.

Se dependesse de mim, não existiriam favelas.

Não teria permitido a proliferação de assentamentos residenciais em áreas que degradam a paisagem urbana; não teria consentido o inchamento das cidades, sem a contrapartida do emprego, da segurança pública, da assistência à saúde e do acesso à educação.

Teria, pelo contrário, promovido o desenvolvimento rural; patrocinado assistência financeira e tecnológica à agricultura e à pecuária; proporcionado ensinamento técnico ao homem do campo; criado pequenas agroindústrias para aproveitar a matéria prima local; envidado esforços para o jovem rural não se sentir atraído pelas ofertas da cidade e abandonar o campo.

Teria, num gesto de visão futurista, ampliado as escolas existentes na zona rural; instalado bibliotecas públicas; oferecido transporte escolar aos alunos; fundado cooperativas de produtores agrícolas; construído centros de saúde, hospitais e postos de polícia.

Teria, com essas providências, aumentado a produção, a oferta de emprego, o nível de escolaridade do trabalhador, a técnica agropecuária, a assistência à saúde e à segurança do cidadão.

Talvez, evitado o êxodo rural.

E, quem sabe, fixado o homem a terra.

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