terça-feira, 21 de julho de 2009

Conversa fiada (crônica)

Conversa fiada é como conversa de botequim. Despropositada, vazia, que não leva a nada. As pessoas sequer prestam atenção à narrativa. É uma estória que não merece crédito, igual às conversas de político. Ninguém acredita nelas.

Há alguns dias, numa roda de amigos, contei-lhes um sonho pavoroso que tive na noite anterior. O meu sonho situava-se no próximo ano de 2003. Haviam sido realizadas as eleições presidenciais e Lula, tendo recebido expressiva votação, era o novo presidente da República.

Eleito, nomeara seus ministros, disposto a governar com o povo, pelo povo e para o povo. Eram muitos os Ministérios, mais que os atuais, pois precisaria abrigar em seus quadros, ilustres figuras da esquerda que trabalharam pela vitoriosa eleição, e da direita, para contemplar os que, embora não tivessem se esforçado para elegê-lo, fariam parte do governo, emprestando-lhe solidário apoio político.

Mercadante, como ministro da Fazenda, suspendera o pagamento da dívida e declarou moratória até que conceituada auditoria – uma equipe da esquerda francesa – confirmasse o total do débito, tendo o cuidado de averiguar se a dívida já não teria sido quitada por valor superior aos empréstimos concedidos com aval do FMI.

No Ministério da Reforma Agrária, José Rainha dava início a ousado programa de distribuição de terras; contava com a assessoria de Pedro Barbudo, do Distrito Federal, exímio conhecedor da política de distribuição de lotes, implantada pelo governador Joaquim Roriz. As invasões promovidas pelo MST não mais ocorreriam, pois o novo programa contemplaria ampla e irrestrita distribuição de propriedades, adquiridas de latifundiários que, em pagamento, receberiam títulos da dívida agrária, vencíveis em trinta anos. A primeira parcela, claro.

A política de habitação popular, jóia da coroa petista, estava sendo executada por decreto, em ritmo acelerado. Todo proprietário de prédio com mais de sessenta metros quadrados de área, teria o excesso confiscado e adotaria, como vizinhos, nos diversos cômodos de sua antiga casa, qualquer portador de uma estrela vermelha, tatuada na testa, idéia essa de autoria do ministro da Divulgação Geral, Anthony Garotinho.

Os Ministérios eram tantos que chegaram a superlotar o meu sonho. Lembro-me de serem ocupados por Jorge Bonhausen, Ciro Gomes, Inocêncio de Oliveira, Antônio Carlos Magalhães, todos os demais caciques do PFL e parte do PMDB. O Itamar, satisfazendo antiga aspiração, também estava na nova equipe como embaixador do Brasil na Itália.

Iria solteiro?

Alguns amigos, que me ouviam narrar o sonho, mais parecido com um pesadelo, suspiraram aliviados, quando alguém falou:

“Sonho é conversa fiada!”.

Que alívio!

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