segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A casa da ciência (crônica)

"O mundo é sustentado por quatro pilares: a sabedoria do instruído, a justiça do grande, as orações dos virtuosos, e o valor do bravo”. Esse pensamento, inscrito à entrada das universidades na Espanha, na época da ocupação mulçumana, demonstrava a importância do conhecimento na cultura islâmica.

O profeta Maomé disse mais: “a pena dos sábios é mais preciosa que o sangue dos mártires; o conhecimento deve ser procurado obstinadamente, mesmo que se tenha de ir tão longe quanto à China para encontrá-lo”.

A civilização islâmica contribuiu muito para o desenvolvimento da humanidade. Enriqueceu a ciência, as artes e as letras. Transferiu conhecimento científico às gerações futuras, aprimorou métodos de pesquisas e de investigação, e levou o homem a grandes descobertas.

O trabalho científico de pesquisa e investigação realizado pelos sábios da Escola de Bagdá é impressionante. Os mestres ensinavam a “prosseguir do conhecido ao desconhecido, a observar os fenômenos de modo a deduzir causas de efeitos, e a aceitar como fato somente o que havia sido provado por experimentos”.

O califa Al Mamun foi o grande responsável pelo desenvolvimento cultural em Bagdá. O conhecimento humano em sua época foi obtido com a tradução de trabalhos de Aristóteles, Hipócrates, Euclides e Cláudio Galeno.

Galeno (200-132 ªC) foi o primeiro a observar que pelas artérias fluía sangue e não ar. Estudos e descobertas na época de maior desenvolvimento intelectual da civilização islâmica, entre os anos 750 e 1258, foram repassados à Europa Medieval.

Também foi o califa Al Mamun quem criou a Casa da Sabedoria em Bagdá. Contratou sábios de diferentes raças e religiões para aprofundar estudos e pesquisas. Interessava-lhe descobrir o “pensamento da antiguidade”, deixando à parte crenças e ideologias.

Médicos formados na universidade de Jandaisapur, na Pérsia, despertavam grande interesse à comunidade intelectual da cidade, sendo Hunain Ibn Ishaq, considerado o “pai da medicina árabe”, o responsável pela tradução de obras que permitiram o progresso da ciência médica.

A Hunain e a outros autores árabes também é atribuída a criação de termos médicos utilizados na linguagem científica. Sua escola foi a primeira a traduzir o Juramento de Hipócrates.

A primeira fábrica de papel foi fundada em Bagdá no ano 795. O empreendimento propiciou o surgimento de importantes manuscritos produzidos no império muçulmano. O comércio do livro prosperou no Oriente. Sábios e escritores instalaram salas de leituras onde as pessoas podiam consultar preciosos manuscritos, mediante pagamento de uma taxa, cobrada pelas informações obtidas.

A caligrafia tornou-se importantíssima nos países de civilização muçulmana. Escritores famosos mantinham equipes de calígrafos para reproduzirem suas obras. Era o saber contaminando a humanidade há treze séculos.

Gustave Le Bom disse que “Bagdá e Córdoba, importantes cidades espanholas sob domínio do Islã, foram centros de civilização que iluminaram o mundo com a luz de seu brilhantismo”. Jacques C. Riesler escreveu que “o Islã dominou o mundo através de seu poder, do seu conhecimento e de sua civilização superior”; disse mais: “sucessor do tesouro filosófico e científico dos gregos, o Islã transmitiu esse tesouro à Europa Ocidental, após enriquecê-lo”.

A sabedoria do instruído sustenta o mundo em que vivemos.

(*) Para produção desta crônica, pesquisei, entre outras informações, o livro do Dr. Armando José China Bezerra, intitulado "Admirável Mundo Médico", editado por ocasião dos quarenta anos do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal.

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