segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nordeste valoroso (crônica)

Sou nordestino, cabra da peste, nascido no sertão brabo e seco. Cresci ouvindo histórias de grande sofrimento, de secas homéricas, como a de 1932, que fez sofrer o sertanejo, negando-lhe a água, matando-lhe de fome.

Ouvi de meus ancestrais, notícias de poderosos coronéis, senhores não só do escravo que lhe pertencia como objeto, mas também do destino do cidadão, eleitor de cabresto, carente e humilhado. Soube de crimes políticos, de selvagens vinganças e de assassinatos justificados em defesa da honra.

Presenciei a miséria e a corrupção.

Também conheci as belezas naturais da região, convivi com sua gente humilde, honesta e trabalhadora.

O Nordeste ocupa quase um terço da extensão territorial brasileira, é formado por nove estados e abriga uma população superior a trinta milhões de pessoas. É conhecido por seu clima árido, pelo sotaque que personifica seu povo, por suas inconfundíveis expressões coloquiais, pela culinária exótica e, sobretudo, pela beleza natural de suas praias exuberantes, convidativas e acolhedoras.

Infelizmente, boa parte dos brasileiros considera a região nordestina pobre, atrasada socialmente, dependente do poder público para garantir a sua subsistência; acredita que seus políticos são mais corruptos que os outros; que as dificuldades financeiras do país decorrem do sumidouro de verbas públicas repassadas à região; e que o nordestino é indolente e ingênuo.

Nem tudo é verdade.

O Nordeste não é pobre. Seu povo é que vive na pobreza. A região possui terras férteis. Falta-lhe apenas água para irrigá-las quando as chuvas se revelam escassas. Possui considerável reserva petrolífera, infraestrutura de bom padrão, energia elétrica própria, estradas asfaltadas, portos, aeroportos e telefonia de boa qualidade. Dispõe de conceituadas universidades, razoáveis escolas públicas, bons colégios particulares, hospitais, excelentes hotéis, indústrias químicas, têxteis e de automóveis; usinas de álcool e de açúcar, entre outros variados empreendimentos econômicos.

O atraso social da região, este sim, é verdadeiro e deve ser atribuído às poucas políticas de desenvolvimento, à corrupção, ao desinteresse por mudanças concretas, e à intenção dos políticos de se perpetuarem no poder, mantendo os currais eleitorais que lhes garantem o domínio sobre um povo miserável.

O nordestino não é indolente, como supõem alguns. Pode parecer apático, motivado pela ausência de trabalho. O desemprego pode até viciar o cidadão na ociosidade, mas o legítimo “cabra da peste” é indômito, não cede ao ócio, é inteligente e criativo.

Em todas as atividades humanas, o nordestino se destaca com louvor.

O nordeste já deu ao Brasil figuras exponenciais nas artes, letras, música, ciência, esportes e na administração pública. Pedro Américo, autor do quadro “Grito do Ipiranga”, honrou a região na arte de pintar; Castro Alves, Gonçalves Dias, Augusto dos Anjos, na poesia; Jorge Amado, José Lins do Rego, Gilberto Freire, na literatura; Caetano Veloso, Elba Ramalho, Gilberto Gil, na música; Ademir, Didi e Vavá, no esporte; Deodoro da Fonseca, Epitácio Pessoa e Rui Barbosa, na política. Quatro paraibanos; quatro baianos; quatro pernambucanos; e um maranhense. Treze ilustres cidadãos nordestinos que elevaram o nome do Brasil, orgulhando a todos nós brasileiros.

O nordeste não é pobre, como vimos, e sim empobrecido pela gestão perdulária, desonesta e eleitoreira dos políticos que se locupletam dos votos do eleitor ingênuo e despolitizado, como também o são os de outras regiões brasileiras.

Bastariam políticas sérias de desenvolvimento, implantação de projetos de irrigação, transposição de rios perenes para tornar os “rios secos” fontes de abastecimento; aplicação correta de recursos financeiros e boa administração. Assim, o Nordeste integraria o mapa nacional mais valoroso ainda.

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