Leia, a seguir, o sétimo capítulo de O ultimato. Obrigado, Lamércio Maciel Braga
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Josafá atendeu ao telefone que tocava insistentemente. Do outro lado da linha, uma voz afônica, motivada por algum traumatismo nas cordas vocais, foi ouvida com certa dificuldade:
– 243 falando. Pode ouvir?
– Sim chefe, continue – respondeu após identificar a voz rouca e quase inaudível do interlocutor, agravada pelo ruído do aparelho defeituoso. – 253 na escuta. Pode falar!
– Hoje, à noite, estaremos reunidos no local de costume. Às vinte horas. Entendido? Avise os demais membros do grupo.
– Sim chefe!
Cinco minutos depois, Josafá ligava para alguns nomes de uma lista gravada na própria memória. Atenderam-no prontamente; todos confirmaram suas presenças ao encontro. Ninguém se negou a divulgar a convocação.
Josafá tinha grande respeito pelo líder, um senhor de sessenta anos de idade, cabelos grisalhos e extremamente educado; falava com incrível correção gramatical, tinha o olhar penetrante e a voz cheia, audível, diferente da ouvida pelo telefone naquela manhã. Afinal, estava doente. “Que Deus o cure o mais breve possível” – rogou Josafá, em pensamento.
O chefe dirigia muito bem a organização. Satisfazia plenamente aos colegas por ser objetivo nas explanações que fazia. Era um homem admirável, prestativo, religioso.
Um judeu convicto.
Regia-se pelo Velho Testamento.
“Dente por dente, olho por olho”, insistia o mestre em suas preleções.
Nascido em Governador Valadares, estado de Minas Gerais, Josafá estudou em escola pública, mal servida de professores; mesmo assim, concluiu o segundo grau; pretendia ingressar na universidade.
A exemplo dos conterrâneos, desejou morar nos Estados Unidos, país que diziam ser o “paraíso” do trabalhador, especializado ou não. Nunca conseguiu realizar o sonho; tentou duas vezes, porém foi enganado por agentes de viagens inescrupulosos. Temia ser preso ao atravessar a fronteira com o México; por isso, renegou a idéia.
Depois de desistir de morar na América, Josafá transferiu-se para Brasília. Na capital federal, trabalhava de dia e fazia cursinho pré-vestibular à noite. Pretendia fazer Direito. Antes de terminar os estudos, foi aprovado em concurso público para órgão da Justiça Federal.
O esforço do jovem foi premiado.
Como futuro advogado, Josafá pretendia defender causas sociais, advogar demandas justas onde pudesse aplicar os conhecimentos acadêmicos e seu inabalável sentimento de justiça.
Às vezes, dizia aos colegas de faculdade: “jamais defenderei o MST; a causa pode parecer justa, mas o movimento é político e guerrilheiro; não concordo com a manipulação das massas; o homem analfabeto ouve a voz sem saber de onde vem”.
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quinta-feira, 13 de agosto de 2009
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