segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Vergonha de ser honesto (crônica)

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Temo que Rui Barbosa, ao escrever essa sentença, estivesse coberto de razão. Em seu tempo, já existiam autoridades inúteis, incapazes, corruptas e injustas; pessoas más, desonestas e sem caráter povoando este Brasil desordeiro e impuro.

O triunfo de pessoas sem mérito, a deterioração da honra e o crescimento da injustiça facilitam a prosperidade do mau e envergonham o homem honesto, tanto no passado quanto no presente. Nos dias atuais, a pureza e a moral parecem ser bens escassos, ignorados por expressiva parcela da população. Principalmente pelos políticos.

O mau exemplo está por toda parte.

No Congresso Nacional, deputados e senadores desrespeitam as regras parlamentares, infringem as leis, praticam atos de corrupção, votam matérias de interesses corporativos, negam apoio às reformas de base e a projetos de interesse social, exercem o nepotismo, faltam ao trabalho, debocham do povo, praticam atos indecorosos. Nas assembléias legislativas e nas câmaras municipais, os exemplos causam arrepios aos mais anarquistas dos observadores.

No executivo, nos três níveis de governo, ministros e secretários disputam o título de “O mau administrador”. Sem penalidades a cumprir, beneficiados pela impunidade, navegam nesse “mar de lama” em que se tornou a administração pública brasileira.

O Judiciário... Ah, o Judiciário! Quem poderia julgar e aplicar penas corretivas e reparadoras senão o Judiciário, entidade que tem os olhos fechados para a injustiça e a disposição firme e constante para a prática do bem?

O Judiciário, responderia o exagerado otimista.

Seria uma utopia, pensar assim?

As maiores autoridades judiciais do país são nomeadas por critérios políticos, às vezes, sem a exigência do notório saber jurídico. Muitos magistrados são portadores das mais expressivas letras jurídicas. Porém, dependendo do “QI”, candidato menos preparado poderá ser alçado aos escalões da magistratura.

Nos Tribunais de Contas, os ministros também são nomeados por critérios políticos. São raras as sentenças aplicadas ao administrador público por seus afilhados.

Se o homem já se sentia envergonhado de ser honesto, no tempo em que o fio do bigode era honrado a qualquer custo, como se sentiria hoje, sabendo que a bandidagem campeia e que altos funcionários públicos praticam vilanias que fariam corar Ali Babá? Que políticos exorbitam de suas atribuições para desviar recursos, empregar parentes e apaniguados, e que juízes roubam, associam-se ao tráfico de drogas, vendem decisões e promovem a soltura de bandidos?

Rui, se você me ouvisse de onde está lhe diria: “conterrâneo, valoroso nordestino, cabra da peste como eu, a coisa aqui está preta. Rouba-se muito neste país. Até demais. Seqüestra-se, estupra-se, espanca-se, mata-se sem piedade, sem remorso.

E o que é pior, sem punição”.

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